Acidente em vesperas de eleição

on segunda-feira, 15 de junho de 2009

- ai, ai, esta doendo muito.
- onde, é na cabeça?
- não, não, é nas pernas.
- hei, por favor, vamos abrir a roda, estão sufocando o rapaz!
Alguém teve uma idéia.
- vamos abanar com as camisas.
Mais que depressa uns três foram logo se despindo da camisa e na mesma rapidez abanando o rapaz que continuava a reclamar das dores nas pernas.
O rapaz estava deitado no acostamento da rua Coronel Solon, perto da igreja católica central dessa comunidade, ele tinha se chocado com um carro que ia fazer a volta para o sentido inverso, ele de moto, a moto, totalmente devastada pelo impacto, estava a poucos metros dele.
- Droga, alguém já chamou uma ambulância?
- já, ela esta vindo.
- o rapaz vai morrer e a ambulância não chega.
- acho que não vem não,vi dizer que esta por ai entregando feira.
Enquanto isso, as pessoas começavam a chegar de todas as partes, formando uma multidão de curiosos.
- o que aconteceu aí?
- um acidente com um cara que vinha de moto e esse carro!
- de quem é o carro?
- sei não.
- e a moto?
- homi, vá ali, e olhe.
Em torno da vitima, estava uma grande roda de pessoas, umas dando-lhe assistência medica; abanando, algumas com autoridade de advogados; julgando quem estava certo e errado, outras pareciam ter licença do DETRAN; fazendo a pericia, e ainda outras só comentando, o interessante disso tudo, é que todos falam ao mesmo tempo.
- o rapaz vai morrer e a ambulância não chega.
- disseram ali que estão na zona rural entregando feiras.
- que é isso, e porque entregar feira nas ambulâncias?
- pra ninguém desconfiar.
- ah, entendi..
Imediatamente chega outro e entra na conversa.
- e como você sabe, você viu?
- ai, minhas pernas.
- não, foi o que disseram ali.
- ai, minhas pernas estão doendo.
- apôs só diga uma coisa quando puder provar.
- e a cabeça dói?
- mas é o que todos estão dizendo.
- não, é só nas pernas.
- diga um, só um que disse.
- abanem as pernas do cara.
- sei não, só sei que é o que tão dizendo por aí.
- cuidado, homi, não pegue aí não. Aí dói.
- você sabe de nada, vá procurar o que fazer homi, que é muito melhor.
- ei, cuidado não empurrarem aí atrás, se não vão acabar pisando o rapaz no chão.
- vou logo sair daqui.
- é saia mesmo.

Enquanto isso.
- vamos botar ele no meu carro que eu levo.
- não, ele só sai daqui na ambulância.
- que conversa é essa, vai deixar o rapaz morrer aqui, é?
- nã, ele não morre não.
- tudo bem, você é o responsável, caso aconteça algo de mau a ele.
- de novo, porque de mau já aconteceu,
- to me referindo a caso de morte.
- homi vai azarar outro.
- deixe eu levar, a ambulância esta na zona rural, entregando feira, fazendo campanha do seu prefeito,
- você prova?
- sim, tem isso também de provar, va ver.
- homi va procurar o que fazer.
- va você, seu babão.
Enquanto isso, o rapaz continua ali, deitado no chão, reclamando das dores nas pernas.
- homi, minhas pernas estão doendo muito.
- babão é você, boca pôde.
- abanem minhas pernas.
- sai daqui babão sem valor.
- e tu, doido por um emprego de babão. Sai daqui sanguessuga.
- é do joelho pra baixo, acho que quebrou.
- vai procurar o que fazer bafo de peido.
Eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeh,
Chega a ambulância.
- se afastem todos, por favor.
- aí é que é prefeito.
- aaaah, meia hora depois, se fosse em Mossoró era na hora.
- deixe de ser idiota otário, passou só dez minutos, e se fosse em Mossoró era no mínimo meia hora, eu digo por que já vi.
- você sabe de nada.
- não e você é muito esperto, trocou o certo pelo duvidoso.
- e daí, o que você tem haver com isso.
- eu não tenho nada, o burro não é eu!
- vamos ver depois do dia cinco de outubro.
- vamos.
- saiam do meio, pra ambulância passar.







Prof. Ronaldo Josino

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