Moda Nacional

on segunda-feira, 22 de junho de 2009

O ano de 2006 para os brasileiros foi considerado o ano das CPI’s, atrevo-me a concluir isto devido ao grande número de CPI’s criadas neste ano, foi CPI dos correios, CPI dos bingos, CPI do mensalão, CPI das ambulâncias, também conhecida por CPI das sanguessugas, CPI do dossiê do caseiro e até CPI do cuecão, enfim, CPI pra todos os gostos e desgostos de muita gente, vai gostar assim de CPI lá no... Em Brasília.
Uma coisa é certa, em todas as CPI’s feitas por nossos deputados e senadores, quase nunca encontramos os verdadeiros culpados, não se sabe se é porque os acusados são escorregadiços, não existem ou se é por que alguns deles fazem parte da mesa de investigação, cá entre nós, apostaria na terceira opção.
Bom, pra não ficar de fora dessa, digamos, mania nacional, os vereadores de minha pequena cidade, Grossos, com mais ou menos 10 mil habitantes, resolveram não deixar barato, como não são brasilienses e não queriam invejar os parlamentares lá em Brasília, decidiram não criar uma CPI e sim, uma CEI – Comissão Especial de Investigação.
Baseando-se em possíveis desvios de verbas do então prefeito, nossos vereadores queriam por que queriam afastá-lo do cargo. As sessões eram feitas as terças na câmara e logo que o povo tomou conhecimento, já que era moda, a câmara que poucas vezes viu gente, lotou. Era gente pra todos os lados, em pé, sentada, de colo, apoiada com o pé na parede, gente no ombro de gente, de cócoras, de ponta de pé, enfim, era tanta gente que os mais atrasados tiveram que se contentar lá fora, pois dentro não cabia mais ninguém. Quando acontecia alguma novidade, tipo uma polêmica, gerando assim uma discussão entre os vereadores, imediatamente saia um ou outro da câmara, eufórico, quase gritando pra quem estava lá fora:
- O homem vai sair! O homem vai sair! Neste caso, insinuando que o prefeito perderia o mandato.
Logo um do contra a CEI rebatia:
-- Vai sim! Vai sim! Ele não vai morar aí dentro.
Todos riam, o informante saía meio sem graça, enquanto as atenções se voltavam para a câmara. O ruim pra quem saía da câmara pra dar alguma notícia era que voltar, jamais, pois seu lugar era logo tomado por outro.
Na primeira sessão houve um pouco de tudo, vereadores brigando quase aos murros com vereadores, gente gritando contra, gente de modo tímido torcendo a favor, gente chorando com medo de o prefeito perder o mandato, pois se assim acontecesse, ela também perderia o emprego, vereadora acoimada de bêbada, vereador acusado de ser uma hora o anjo de Deus e outra o príncipe das trevas, vereador acusado de colocar água no leite que vendia, vereador (a) acusado (a) de só estarem ali pelo fato do prefeito ter se recusado de não pagar propina para ficarem do lado dele, gente passando o dedo na cara de vereadora, vereadora fazendo sinal com a mão, mandando o povo se f..., enfim, entre dito e não dito, feito e não feito e nada resolvido, terminou a sessão com todos vivos e com boas perspectivas para a próxima sessão.
Na segunda sessão a coisa foi deferente, os vereadores pediram reforço às autoridades da cidade vizinha para conter a multidão e sem mais espaçar a história, chegaram para proteger a câmara de um possível linchamento ou um ataque terrorista mais de quarenta soldados, todos armados e protegidos por coletes pretos e escudos de vidros a prova de balas, além dos bastões de cor preta em punho, se Hosana Bim Ladem tivesse sabido disso, com certeza teria mandado um de seus homens bomba, só para testar a força e a arrogância ameaçadora desses soldados.
Estes logo, com uma corda de náilon azul, fizeram um cordão de isolamento em volta da entrada da “casa do povo”, para que o povo não entrasse, pense num contraste! Quem se aventurasse a ultrapassar a corda, sova nele. Graças a Deus, ninguém quis se aventurar, também, o povo nunca tinha visto aquilo antes, quando viu, todo mundo ficou assombrado, parecia cena de filme de guerra, se Steven Spielberg tivesse visto, teria ficado hidrófobo de tanta inveja ou no mínimo, gravado as imagens para fazer um futuro filme, imagino até o nome; “Terror em New Grossos”, pense no sucesso! Bateria o recorde de bilheteria, pelo menos por aqui tenho certeza que sim.
A sessão transcorria bem lá dentro, pois só havia os vereadores, o povo que estava todo contido na parte de fora por livre e espontânea pressão, aplaudia quando viam os vereadores que eram do contra a CEI passarem pela porta de vidro e, com a mesma intensidade, vaiavam os que eram a favor, inclusive os soldados, todos sérios, fazendo jus à farda, também não escapavam das vaias, até sabugos de milho verde jogaram nos coitados, que permaneciam lá, em pé, como se fossem estátuas de bronze com suas roupas plúmbeas inconfundíveis.
Não vou aqui encher sua paciência com detalhes de outras sessões, pois entre um fato isolado ou outro, paciente leitor, nada há de especial ou diferente das demais CPI’s que nossos seletos representantes inventam de fazer no nosso país, contudo, se há alguma coisa de dessemelhante das demais, deve ser o fato que nesta em particular, em vez do povo ser a favor, era contra a CEI.
E o fim desta historíola é aquele que vocês já estão cansados de saber, a CEI terminou em pizza, a CEI encerrou seus trabalhos por falta de coro, isto é, o que era insinuações dos vereadores, terminou como sendo mentira e a imagem de ineficiência dos vereadores terminou como sendo verdade, ou seja, o prefeito continua sendo o prefeito e os vereadores continuam sendo eles mesmos, sempre comandados pelo borós.
Assim é a maioria das CPI’s feitas nesse nosso Brasil, tão grande, tão rico, mas tão explorado por homens com visões subjetivas, não dando espaço para este país – que desde seu descobrimento, vem sendo vítima dessas pragas – crescer. Mas não desanimemos, cresceremos assim mesmo, mesmo que seja um passinho de quatro em quatro anos, porém o mais importante disso tudo não é o tamanho do passo, e sim, que este passo ou passinho, não seja dado para trás.

Prof. Ronaldo Josino

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